domingo, 7 de fevereiro de 2010

O que não mata, fortalece

A gente aprende que tudo tem sua primeira vez. Uma vez você ouve isso de alguém. Na vez seguinte, você está repetindo para outra pessoa. É uma ótima maneira, inclusive, de se conformar com certas situações.

Lembro de quando meu irmão foi assaltado pela primeira vez e levaram seu celular super moderno - que, dentre outros recursos, permitia se comunicar com pessoas à longa distância, mas ele mal acabara de pagar as primeiras prestações –, lamentei menos pelo furto do que por sua sorte ter chegado ao fim. Em outras palavras, demorou tempo demais para ele ser assaltado pela primeira vez. Eu, com dois anos a menos de vida, já sofri dois assaltos e ainda corri com o policial pela Presidente Vargas atrás do bandido. Mas o primeiro foi dentro do ônibus, o ladrão estava armado e levou meus nove reais. Não deu para saltar no ponto e correr atrás dele.

Não me recordo, obviamente, da quando falei a primeira palavra. Minha mãe só diz que custou, demorando três anos para começar a falar “direitinho”. Talvez isso explique minha ótima retórica. Minha cinefilia deu seu primeiro passo numa sessão de O Rei Leão e a primeira peça que assisti, ainda que não num teatro, foi O Mágico de Oz - muito tardiamente, vale dizer. Só não faço ideia do primeiro livro lido nem do primeiro show.

Lembro do meu primeiro beijo, num jogo de verdade e consequência, um selinho na menina que era apaixonada por mim e eu, apaixonado por ela. E lembro do meu primeiro beijo de verdade, no sofá da casa de uma amiga, na menina que era apaixonada por mim e eu não era apaixonado por ela. Fiquei nervoso e ao som da batida do meu coração, eu babava, ela babava, e, para resumir, foi um péssimo começo. Recordo, e não dá para esquecer, da minha primeira transa. E vamos começar um novo parágrafo para mudar de assunto.

Teve a primeira vez que me masturbei, a primeira vez que gozei, minha primeira ida à boate, à montanha-russa, meu primeiro acidente, meu primeiro estágio, o primeiro jogo que assisti no Maracanã, meu primeiro porre – de vinho, que me deixou com a boca roxa de tanto vomitar -, meu primeiro trago, a primeira vez que criei um blog e a primeira vez que acabei com um, minha primeira briga na escola – mentira, era muito frouxo para isso -, meu primeiro celular, minha primeira ida ao motel, meu primeiro zero na prova e meu primeiro dez, minha primeira recuperação, meu primeiro vestibular.

E meu primeiro toco, por que não? Foi ontem. Estou para terminar alguns trabalhos, mas não consigo me concentrar. Parei para compartilhar esse episódio com a internet e me sentir mais leve. Só queria parar de rir de nervoso e acabar com a vontade de enterrar minha cabeça toda vez que me lembro da cena. Ainda estou me recuperando, afinal, a gente não está preparado para levar o primeiro toco aos 21 anos de idade. Bem, tudo tem sua primeira vez. Só resta esquecer que algumas "primeiras vezes" podem ser evitadas.