segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sobre leituras e escritos

Incontáveis foram os momentos em que passou pela minha cabeça retonar à casa, sentar-me defronte ao teclado, deitar meus olhos sobre a tela em branco e divagar sobre todos os assuntos: a agenda cultural da semana, o casamento de Lula e Sarney (celebrado por Dilma Roussef e apadrinhado pelos fofos Collor e Calheiros), o desejo da minha mãe de me dar um irmão (um cãozinho shitzu), e por aí vai... tive uma ideia não escrita em praticamente todas as semanas recentes. De umas, farei proveito. De outras, até me esqueci. Em comum, o fato de que nenhuma saiu de mim para chegar a vocês. Por quê?

Eu poderia tentar enganá-los e enganar-me dizendo que são a faculdade, o trabalho etc. os reponsáveis pela ausência de todos os Conspirados aqui. Mas as férias já terminaram há tempos e a frequência de postagens continuou pífia. De minha parte, admito que tive tempo livre suficiente para escrever alguns posts curtos ou outros mais longos. Que meus rompantes-criativos-não-levados-à-frente não me deixem mentir. Também não deixei de acompanhar blogs. Não deixei de ler. E quanto mais lia, mais percebia que sou muito mais leitor do que escritor. Não se enganem, adoro este lugarzinho pra se falar mal dos outros, adoro os comentários sempre bem-humorados e adoro a pequena rede de amigos blogueiros criada. Mas, sei lá. Tem certas coisas que leio que me fazem desistir de escrever. Não pelo fato de serem ruins, pelo contrário. São tão boas que não me considero apto a colaborar, a confrontar, a participar.

São sintomas de três defeitos meus: a megalomania, a pouca auto-confiança, o egoísmo. Megalomania porque eu quero ser sempre o melhor. Se eu não for, não brinco. O problema é que eu, obviamente, não sou. E ainda bem que não. Se fosse, o mundo blogueiro estaria nivelado por baixo. Isso nos leva ao segundo defeito: como há gente muito melhor, tudo o que eu tentar fazer vai ser, no máximo, mediano. Pra que perder tempo fazendo algo mediano? Pouca auto-confiança. Pouca confiança na minha capacidade de aprendizado. Uma pessoa saudável começa mal e melhora, até ficar boa. Eu começo mal até desistir. Tem ainda o egoísmo. Assim como acontece com todo mundo, a leitura desperta o pensamento, o pensamento desperta a expressão. A expressão pode se desdobrar na escrita. A escrita atrai a leitura, e foi assim que ficamos mais inteligentes. Eu leio, eu penso, eu fico mais inteligente, mas não me expresso. Mau, muito mau. Sinal de que sou egoísta, não aceito dividir meu conhecimento. Egoísta e contraditório: se meus pensamentos me são tão preciosos, por que não pô-los à disposição para enriquecer o debate, para serem endossados ou desmentidos? Porque não tenho tanta confiança assim na 'preciosidade' deles. Ainda bem, né. Pelo menos tenho semancol. Só acho que tenho um pouco demais e isso me impede de crescer.

Aonde eu quero chegar com isso? É um anúncio de que vou parar de escrever? Não. Na verdade é justamente o oposto. Espero que, após expor o problema, eu possa expiá-lo e passar a me levar menos a sério, pra poder ser um leitor e um escritor mais saudável e agradável. Poder fazer o certo. Ler, pensar, expressar, e integrar o ciclo. É assim que todo mundo faz. Não sou melhor nem pior do que ninguém pra não querer participar do jogo.

Pra quem chegou até aqui, este é só um post-desabafo. Não há nenhuma revelação, nenhuma piadinha, nenhum link legal pra reparar seu desapontamento. É a só a constatação de uma situação, e as consequentes impressões retiradas da mesma. Agora, com licença. Vou ler um pouco.

5 comentários:

jeff disse...

Deu até vontade de escrever, mesmo que seus defeitos não sejam somente um privilégio seu.

[]

Anônimo disse...

por esses e outros [posts] eu me mantenho fiel a essa budega aqui...

Charles disse...

um dia eu ainda escrevo nesse blog....

Jenni disse...

"Eu começo mal até desistir"

Isso nao provem de ti, Lerdo!

Isso me faz lembrar um alguem que começou a fazer aulas de alemão e depois de ser uma tragedia, desistiu, botando a culpa na faculdade, no estagio, no outro curso de idiomas; quando na verdade não conseguia era dar um passo a frente.

Adoro o Lerdo escrevendo!

CHiP disse...

Blasfêmia! Você é o melhor, cara. Apesar de você não se acha o melhor, é isso que o torna o melhor. Ter em mente que já é o melhor só te segura para trás, rapaz. Pelo menos é nisso que acredito.

Aprendizado é processo lento e chato, porém, gratificante. E mesmo achando isso, fico me perguntando se realmente eu cresço todos os dias. Paradoxo, não?

Enfim, meu maior medo é um dia parar de crescer. Espero que isso me impulsione a não fazê-lo. #ficaadica