domingo, 3 de outubro de 2010

"De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido"

A quem interessar possa, a frase do título é do escritor José Saramago e eu já falei sobre comunicação, leitura e escrita por aqui. Depois de meses sem postar, retomar um assunto antigo – em todos os sentidos – não é muito esperto. Mas foda-se tudo bem. Sigamos.

Como fez à exaustão em sua existência, Saramago se equivocou. Desta vez, na crítica ao Twitter. Disse que o microblog representa uma tendência a comunicar-se com cada vez menos complexidade, ao monossílabo. Uma passada superficial sobre os assuntos mais populares (os Trending Topics) do serviço pode dar razão ao escritor, falecido em junho deste ano.

Saramago, porém, sabia que a comunicação curta e ágil também pode render reflexões extensas e aprofundadas. Só devia estar de mau humor ou magoado por não saber tuitar. De fato, o curso da humanidade é pontuado por grandes frases que caberiam perfeitamente nos 140 caracteres de um tweet. Querem ver uns exemplos? Obviamente, foram retirados de seus respectivos contextos, mas é isso que faz a História.

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.” (Pedrinho, o Primeiro - 91 caracteres)

“Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho.” (Martin Luther King – 120 caracteres)

“Este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade.” (Neil Armstrong – 77 caracteres)

“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram.” (Ulysses Guimarães, ao promulgar a Constituição de 1988 – 61 caracteres)

“É bom ter livros de citações. Gravadas na memória, elas inspiram-nos bons pensamentos.” (Churchill - 86 caracteres)

Ainda há muitas outras, que não citarei (fiquem à vontade para fazê-lo nos comentários), por simples razão: o texto acima tem 1400 caracteres, com exceção dos espaços. Pode contar (not). Ele foi motivado pelo simples fato de o Twitter estar destruindo a minha vida, chegando a me fazer esquecer deste blog. Tive de ser acordado pela leitora-sócia Dari pra poder digitar este texto. Mas não consigo parar. Há tratamento? Saramago estava certo?

Também tento provar pra mim mesmo que ainda tenho a prática de escrever textos mais longos, apesar de 1400 caracteres ainda ser muito café com leite. Mas o número é simbólico, vocês entendem...

Bom, nos vemos no meu twitter. Tenho muito ainda a grunhir.

Me lembrei das redações que fazia pro curso de inglês, que deveriam ter pelo menos 100 palavras. Fiz um exercício parecido agora. Só que mais divertido