quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A nova década já começou mal

Não quero e não gosto de ser rabugento (que isso), pessimista (nããããooo), mau humorado (Cláudia manda beijos), mas o ano de 2011 não traz bons augúrios. Os próximos nove anos, aliás, serão complicadíssimos, escrevam o que estou dizendo. Nem é o risco de uma terceira guerra mundial eclodindo nas Coreias ou no Oriente Médio, ou o governo Dilma, ou o retorno triunfal de Lula em 2014. Também não falo do colapso ambiental e energético que o consumo desenfreado puxado pelos países emergentes. Mas tudo isso fica em segundo plano quando estamos diante da quebra de uma sequencia que marcou a mais intensa das décadas da história. Durou pouco mais de dez anos, mas se tornou uma tradição que certamente, iremos repetir sempre que possível. Mas 2011 trará seu fim. Sentiremos saudades dos óculos de ano novo. Mas os genuínos. Aqueles, cujas lentes eram os zeros do ano vindouro. Ou seja, para ter um bom óculos, é preciso que um ano tenha pelo menos dois zeros em seus algarismos. PORRA, 2011!!!


Vejam como eram divertidos e lúdicos. Faziam a alegria de crianças, adultos, até mesmo de políticos (não é, Sr. Kassab, o estiloso de 2009?). Para 2011 até tentaram emplacar o modelo abaixo, mas eu acho que não ficou muito legal. 1 não é 0. Zero é uma boa lente, mas um pode ser, no máximo, uma haste.


Enfim, pra quem ainda tem alguma esperança de que esse ano vai prestar, tsc, tsc, só vou deixar meu Feliz 2011 por pena e porque é convenção social.
Em 2020 a gente conversa. Até!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Três velinhas para assoprar

Oi. Eu sou o Conspirando. Hoje meu aniversário. Não que alguém se importe. Meus pais me esqueceram, meus leitores me esqueceram, meus companheiros blogs me esqueceram. O lado ruim de fazer aniversário perto do Natal é que a gente só ganha um presente pelas duas datas. Mas no meu caso exageraram. NEM UM!!!! Necas. Nadinha. Nem um selo "este blog é bacaninha", nenhuma corrente pra participar, nenhuma foto ou vídeo engraçado/ constrangedor da internet... nem mesmo um comentariozinho (chuif)... Nenhuma pedância d'O Idiota, nenhuma efemeridade travestida de sapiência d'O Lerdo, nenhuma fofurinha d'A Vilã, nenhum comentário incompreensível d'O Chato, nenhum erro de digtiaãço d'A Psicopata, nenhum manifesto tecnológico d'O Esquisito, nenhuma boiolice d'A Interesseira... D'A Trambiqueira eu não espero nada mesmo, fica só o registro. Aliás, só tô escrevendo aqui, às 23h45 pra não passar em branco... Ficou pra mim, essa tarefa, que absurdo.

Aí, vamos parar de melodrama. Não estamos aqui pra chorar estas mágoas. O Ano Novo se aproxima, e com ele virão novos tempos, novos posts, novas aventuras, meus tempos áureos estão voltando.

Depois do que eu falei dos meus donos, só resta uma coisa a dizer sobre esta possibilidade:



"Aham, Cláudia, senta lá. E feliz 2011."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O diário acabou.

Atraso - obrigado, Deus, só assim não perdi a viagem. Nuvens. Minas Gerais. Gerais das Minas. Texto no ônibus - e eu não sabia que se podia rir tanto escrevendo um texto. Matheus. Caipirinha forte pra caralho. Tentativa de assalto. japerifeelings. John Lennon. Michelle - e eu ainda não me masturbei ouvindo essa música. Bêbado. Muito bêbado. Ressaca maldita. Velvet. Fazendo alok na Velvet e achando que tá comandando a boate inteira. Ciro. Heineken. 2666. Taxista fofo que não cobrou passagem. Taxista oportunista. Albergue. Camilla frustrada e quase chorando. Nescau. Morre, diabo. Vive, deusa. Cláudia. Santa Cláudia. Ah, Xuxa! Aleijadinho. Pedra sabão. Noiva brega na Pampulha. Água de coco. Love Today. Câmera foda d'O Lerdo. Fotos incríveis com a câmera foda d'O Lerdo. Amigos. Oi? Paço. O Passo. Jazz. Ladeiras. Muitas ladeiras. Janta com música ao vivo. Desafinado. Igreja. Andar. Segurança gatinho e chato. Guia dentuço e fofinho. Escravos. Moedas. Sotaque. Salgadinho. Salgadinhos de graça só para mim. Menstruada. Dinheiro indo embora. Significa. Ryca. Mary Poppins. Dormir de cueca. Museus. Faculdade roxa. Praça. Decoração de Natal. Salada de frutas. Helicóptero do Papai Noel - ou bichinho de Avatar. Caminhão da Coca-cola. Sandy e Junior. Djavan no barzinho. Cinema legal. Pizzaria cara. Orelhão com cadeira. Shopping. Ônibus pequeno. Calça roxa. Vergonha alheia. Papai Noel na janela. Foto antiga. Mentir sobre onde mora. Luz barroca. Quarto muito bagunçado. Docinhos ruins viciantes. Comida mineira.

Hoje. Lembranças.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Diário de Minas #2

DIA 1 – 15:35

Porra, eu tomei um banho! Quando você deixa de ser criança, percebe que banho é uma das melhores coisas do mundo. Estou temporariamente num quarto só pra mim, o que significa que eu tenho liberdade. E isso quer dizer que eu deitei nu na cama e foi, basicamente, tudo o que eu mais desejava naquele momento. Não exatamente ficar pelado, mas deitar – o tirar a roupa foi apenas uma consequência de estar sozinho.

Não sei o que será de hoje. No momento só penso em um prato de comida na minha frente. Estou faminto.

Diário de Minas #1

DIA 1 – 12:32

“Eu não tenho controle sobre mim.” Foi isso que disse à Dariana enquanto o ônibus se dirigia para Ouro Preto. Mas mal partira da rodoviária. A viagem seria longa, um novo e inócuo caminho havia de ser descoberto pela larga janela do automóvel – ou não, porque estamos todos com sono, e nessas horas, a paisagem vai se escurecendo, mas não que esteja anoitecendo, nossos olhos que se fecham e repousam.

Camilla e Suellen – ambas carregam dois éles em seus nomes, mas não que isso faça alguma diferença nesta viagem – acompanham algum filme nas poltronas laterais. Mas não sei qual. Só sei que enquanto escrevo estas palavras, que surgem de modo incontrolável e saem de meus dedos como se fossem donas de si mesmas, Belo Horizonte se esvai pelo canto dos olhos.

Não é tão diferente de uma cidade comum. Não é tão diferente do Rio. Dariana concorda ao meu lado, para ela tudo também está comum demais. Diferente de quando as leves nuvens se misturavam ao verde pulsante da paisagem admirada pelo avião.

Mas se Belchior teve medo e segurou a mão de outrem, a gente segue como João Gilberto. Feliz, feliz seremos nesses dias que nos esperam.

NOTA: Esse texto é uma tremenda piada e, em hipótese alguma, deve ser levado a sério.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

(coloque sua onomatopeia de implosão aqui)

Eu queria ter a incrível capacidade de transformar em pó um argumento que parece irresistível. E com uma só frase.

Querem dois exemplos, e só de hoje?

1) Manchete de um grande jornal: "0,01% é o percentual de moradores do Alemão que acusam policiais"
Resposta de um político famoso, no twitter: "Cuidado com os números. Sob essa ótica, 0,005% dos cariocas são assassinados por ano."

2) Pergunta da âncora do programa de TV: "O que leva um analista de sistemas de 23 anos a roubar e vazar documentos da diplomacia americana?"
Convidado 1: "É provavelmente uma forma de protesto e não aceitação à política externa ame..."
Convidado 2: "Vaidade."

Fim de papo.

domingo, 3 de outubro de 2010

"De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido"

A quem interessar possa, a frase do título é do escritor José Saramago e eu já falei sobre comunicação, leitura e escrita por aqui. Depois de meses sem postar, retomar um assunto antigo – em todos os sentidos – não é muito esperto. Mas foda-se tudo bem. Sigamos.

Como fez à exaustão em sua existência, Saramago se equivocou. Desta vez, na crítica ao Twitter. Disse que o microblog representa uma tendência a comunicar-se com cada vez menos complexidade, ao monossílabo. Uma passada superficial sobre os assuntos mais populares (os Trending Topics) do serviço pode dar razão ao escritor, falecido em junho deste ano.

Saramago, porém, sabia que a comunicação curta e ágil também pode render reflexões extensas e aprofundadas. Só devia estar de mau humor ou magoado por não saber tuitar. De fato, o curso da humanidade é pontuado por grandes frases que caberiam perfeitamente nos 140 caracteres de um tweet. Querem ver uns exemplos? Obviamente, foram retirados de seus respectivos contextos, mas é isso que faz a História.

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.” (Pedrinho, o Primeiro - 91 caracteres)

“Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho.” (Martin Luther King – 120 caracteres)

“Este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade.” (Neil Armstrong – 77 caracteres)

“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram.” (Ulysses Guimarães, ao promulgar a Constituição de 1988 – 61 caracteres)

“É bom ter livros de citações. Gravadas na memória, elas inspiram-nos bons pensamentos.” (Churchill - 86 caracteres)

Ainda há muitas outras, que não citarei (fiquem à vontade para fazê-lo nos comentários), por simples razão: o texto acima tem 1400 caracteres, com exceção dos espaços. Pode contar (not). Ele foi motivado pelo simples fato de o Twitter estar destruindo a minha vida, chegando a me fazer esquecer deste blog. Tive de ser acordado pela leitora-sócia Dari pra poder digitar este texto. Mas não consigo parar. Há tratamento? Saramago estava certo?

Também tento provar pra mim mesmo que ainda tenho a prática de escrever textos mais longos, apesar de 1400 caracteres ainda ser muito café com leite. Mas o número é simbólico, vocês entendem...

Bom, nos vemos no meu twitter. Tenho muito ainda a grunhir.

Me lembrei das redações que fazia pro curso de inglês, que deveriam ter pelo menos 100 palavras. Fiz um exercício parecido agora. Só que mais divertido

domingo, 1 de agosto de 2010

Só uma breve reflexão

Acabo de assistir ao filme O Grupo Baader-Meinhof e o que me veio à mente é que sempre vi o Brasil como um país de alienados. Não que eu queira que a nossa geração saia às ruas com armas em punhos, cometendo ataques a bomba e sequestros, mas o que nós fizemos para sermos ouvidos, mesmo que pelos meios errados?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Quando a gente se engana

Hoje eu estava no ônibus e entraram dois caras negros. Um mais novo, meio jovem-adulto, outro mais velho, só adulto mesmo. Os dois eram negros e tinham cara de bandido. O que é ter cara de bandido? Achei suspeito, gelei, fiquei tenso. O mais novo tinha uma mochila, que foi posta na frente para que passasse pela roleta. E eu esperei ele colocar a mão na mochila e gritar Isso é um assalto!. Eu gelei de novo. Não estava com a menor disposição de ser assaltado naquele momento. Mais do que em todos os outros. Era mais a cara de ladrão que a cor. Fiz toda a viagem e desci do ônibus com todas os pertences e dinheiro que estava ao subir. E pensei Cara, você é preconceituoso pra caralho!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Err...

Odeio pessoas que me encontram e perguntam "Oi, tudo bem?". Bem, eu não as odeio por isso, mas depois do meu simpático "Sim, tudo bem. E com você?", eu gostaria muito de ouvir outra pergunta que não seja "E como vai a faculdade?". Fico muito tenso quando logo no início da conversa a pessoa vem com essa pergunta, porque 1) ela está sem assunto e não tem o que falar e 2) ela sabe que eu também não tenho assunto - e ela, de fato, está certa. [Aliás, só por curiosidade, que tipo de conversa interessante, ou no mínimo longa, pode surgir com tal indagação?] Eu, muito eloquente, respondo com um "Legal!". E depois de um breve silêncio que se segue, reafirmo com um "Muito legal!". Mas já era, ninguém fala mais nada depois disso. O que poderia ser dito, né verdade? Nada mais que um "Que bom." E é geralmente isso que elas comentam. Então, me ajudaê, deve haver uma resposta melhor pra isso.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

E a família, como tem passado?

Sou extremamente medroso e covarde. Dentre meu farto acervo de defeitos, medo e covardia andam latentes ultimamente. Esse não é um post auto-depreciativo. Minhas qualidades são ainda mais recorrentes e também vivem se afirmando em meus dias, dariam um comentário ainda maior que esse, o qual não irá se alongar devido aos trabalhos que preciso terminar para amanhã e só me forcei a postar para, enfim, escrever, coisa que não faço há muito tempo e tenho sentido muita falta. Quer dizer, escrevi sem parar na última prova da faculdade. Minha caneta parecia autônoma e meu cérebro cooperava, finalmente. E o texto de consulta sobre meu colo também dava uma força. Mas digo escrever no blog. Ou nesse ou no outro. Resolvi por esse porque, bem, coitado, ele ainda existe? Tenho o desejo de postar quase sempre, tornar o blog quase pessoal, mas divido, ou melhor, quase divido com outros pessoas. Aí monopoliza. Escrever tipo "hoje tive um dia muito legal. fiz isso, aquilo outro e mais aquela outra coisa. e percebi que se deve viver cada dia como se fosse o último." ou "não paro de pensar no fulaninho de tal. hoje ele piscou pra mim e eu quase me derreti". Blog tipo de mulherzinha, que fala da vida e ninguém lê. Um blog corriqueiro, pessoal e chato. Posso? Tenho adiado todos os meus problemas. Eu tinha que ligar para uma pessoa a fim de resolver um pepino no qual me meti - ou me meteram. Ao invés de fazer imediatamente a ligação, eu ouvia Lady Gaga, ficava enrolando, fazia qualquer outra coisa sem esquecer que precisava estar com o telefone na mão solucionando o pepino. Adiar não dá jeito. Só piora. Eu tenho muita vergonha de falar em público. Extremamente muita vergonha, por ser gago - sim, eu sou gago, mesmo que ninguém acredite - e possuir uma certa deficiência em formular uma linha de raciocínio que seja clara para outra pessoa além de mim. Numa aula, semana passada, a professora dividiu a turma em duplas, e cada dupla tinha que explicar para o restante da turma sobre um determinado tema da matéria. O que fiz? Saí da sala, esperei lá fora, mijei, bebi água vinte vezes, mijei de novo, bebi mais água, voltei para a sala, com todas as duplas já formadas. Busco terminar as coisas, não necessariamente resolvê-las. Mas me juntei com uma dupla, falei tudo sobre o tema em questão e uma das integrantes, a qual escreveu tudo que eu tinha dito, fez a apresentação oral. A professora, bem, não acrescentou nenhuma informação. Ao menos burro não me senti. Só medroso e covarde mesmo. E eu não gosto dessas coisas.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O que não mata, fortalece

A gente aprende que tudo tem sua primeira vez. Uma vez você ouve isso de alguém. Na vez seguinte, você está repetindo para outra pessoa. É uma ótima maneira, inclusive, de se conformar com certas situações.

Lembro de quando meu irmão foi assaltado pela primeira vez e levaram seu celular super moderno - que, dentre outros recursos, permitia se comunicar com pessoas à longa distância, mas ele mal acabara de pagar as primeiras prestações –, lamentei menos pelo furto do que por sua sorte ter chegado ao fim. Em outras palavras, demorou tempo demais para ele ser assaltado pela primeira vez. Eu, com dois anos a menos de vida, já sofri dois assaltos e ainda corri com o policial pela Presidente Vargas atrás do bandido. Mas o primeiro foi dentro do ônibus, o ladrão estava armado e levou meus nove reais. Não deu para saltar no ponto e correr atrás dele.

Não me recordo, obviamente, da quando falei a primeira palavra. Minha mãe só diz que custou, demorando três anos para começar a falar “direitinho”. Talvez isso explique minha ótima retórica. Minha cinefilia deu seu primeiro passo numa sessão de O Rei Leão e a primeira peça que assisti, ainda que não num teatro, foi O Mágico de Oz - muito tardiamente, vale dizer. Só não faço ideia do primeiro livro lido nem do primeiro show.

Lembro do meu primeiro beijo, num jogo de verdade e consequência, um selinho na menina que era apaixonada por mim e eu, apaixonado por ela. E lembro do meu primeiro beijo de verdade, no sofá da casa de uma amiga, na menina que era apaixonada por mim e eu não era apaixonado por ela. Fiquei nervoso e ao som da batida do meu coração, eu babava, ela babava, e, para resumir, foi um péssimo começo. Recordo, e não dá para esquecer, da minha primeira transa. E vamos começar um novo parágrafo para mudar de assunto.

Teve a primeira vez que me masturbei, a primeira vez que gozei, minha primeira ida à boate, à montanha-russa, meu primeiro acidente, meu primeiro estágio, o primeiro jogo que assisti no Maracanã, meu primeiro porre – de vinho, que me deixou com a boca roxa de tanto vomitar -, meu primeiro trago, a primeira vez que criei um blog e a primeira vez que acabei com um, minha primeira briga na escola – mentira, era muito frouxo para isso -, meu primeiro celular, minha primeira ida ao motel, meu primeiro zero na prova e meu primeiro dez, minha primeira recuperação, meu primeiro vestibular.

E meu primeiro toco, por que não? Foi ontem. Estou para terminar alguns trabalhos, mas não consigo me concentrar. Parei para compartilhar esse episódio com a internet e me sentir mais leve. Só queria parar de rir de nervoso e acabar com a vontade de enterrar minha cabeça toda vez que me lembro da cena. Ainda estou me recuperando, afinal, a gente não está preparado para levar o primeiro toco aos 21 anos de idade. Bem, tudo tem sua primeira vez. Só resta esquecer que algumas "primeiras vezes" podem ser evitadas.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Além do Arco-Íris

Eu nunca gostei de angu. Sempre preferi purê de batata. Talvez não há nenhuma ligação entre os dois pratos, a não ser o fato do meu irmão não gostar de purê de batata e preferir angu. Então aqui em casa, dia de angu, também era dia de purê de batata. Angu é meio nojento, meio mole, meio autônomo, se mistura com o arroz e chega num instante que não se come nem mais angu nem mais arroz. Como-se angu com arroz, tudo misturado. E como gosto da comida bem dividida no prato, prefiro purê de batata, que permite controlar melhor o que me sirvo.

Marrom não é cor. Marrom, bege, marfim ou qualquer cor cor-de-terra. Parece que falta luz. Parece ausência. E são normais, sem identidade. Tecidos com esses tingimentos são opacos, sapatos com essas tonalidades deixam tudo muito sério, coisa de adulto. Adulto velho. Aí também não gosto. Sempre preferi cores de verdade, cores que são cores. Olhe para o vermelho e veja como ele se identifica sempre radiante em qualquer ocasião. Ou o amarelo, roxo, coral. Com pouca luz, elas se destacam. Com muita luz, elas refletem ainda mais. O marrom não. Parece sempre meio sem graça onde quer que vá.

Também nunca gostei muito de mulher. Sempre me pareceu que faltava alguma coisa ali. E quando rolava revista de mulher pelada na escola, eu não vi a menor graça naquilo que meus coleguinhas comentavam com tanta vontade. Hoje eu entendo que aquela vontade se chama tesão. Mas eu fingia que sentia também a mesma coisa. Não sei se colava, mas fingia. Quando tinha alguma cena de quase-sexo na televisão e ocorria do meu pai estar assistindo comigo, me lembro que me perguntava "Queria ser ele ou ela?". Para mim, eu respondia "ela". Para ele, eu achava melhor não responder nada.

Não faço a menor ideia porque acabei por preferir purê de batata a angu, vermelho a marrom, homem a mulher. Mas foi ao longo dos anos. Certas coisas apenas foram parecendo melhores que as outras. E ponto.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

♪ Abaixa o Som! ♪ (Parte 3a - Anos 2000)

Já leu???
Introdução
Anos 80
Anos 90a
Anos 90b
Anos 90c




Esqueçam o terrorismo. O Youtube foi o grande perigo da década.

Claaaaaro que foi tudo planejado. A série sobre música ruim foi adiada para coincidir com o fim da década, que outra razão poderia ser? O que parecia (reitero, parecia) ser um esquecimento ou abandono (não esqueci nem abandonei, ok? Certo?) na verdade se provou um acerto, visto que só chegando ao fim da década para podermos analisar o panorama de modo a não esquecer nenhuma daquelas vozes abençoadas que tentaram nos enlouquecer nestes anos 2000. Assim como nos anos 90, esta década terá seus ícones da música ruim expostos em três etapas, a começar por esta.

Assim como em todas as outras áreas, a internet foi decisiva para que o vírus da falta de noção se espalhasse pelos lares brasileiros. Por um lado isto foi ótimo, pois gente muito talentosa apareceu no mundo inteiro graças à divulgação na rede. O filtro que as gravadoras e distribuidoras impunham também enfraqueceu bastante. Temos acesso ao trabalho de artistas que demorariam anos para sair do eixo EUA-Europa ou que sequer apareceriam nestas terras. Por outro lado, nem tudo são flores no reino da internet: assim como há o trigo, também há o joio, e parece que a galera não soube separar isso muito bem...

Podemos dividir os artistas da internet em alguns tipos:
- os bons, que fazem sucesso - inclua-se neste grupo exemplos como a banda inglesa Arctic Monkeys, que teve o álbum de estreia mais vendido da hisória da Grã-Bretanha (superando até os Beatles) e começaram em programas de compartilhamento de arquivos;
- os bons, que não fazem sucesso - vide os milhares de verdadeiros artistas que fazem covers de músicas famosas e, infelizmente, não têm tanto reconhecimento. Falarei deste grupo em uma oportunidade mais apropriada;
- os ruins, que não fazem sucesso - o menos perigoso de todos os tipos, afinal, é ruim e ninguém ouve mesmo;
Não me estenderei nos grupos citados acima, pois meu foco é música ruim e que tenha alguma repercussão. Não tô aqui pra chutar cachorro morto. Não ainda. Portanto, tratemos dos artistas que alcançam algum sucesso com suas músicas se não constrangedoras, nauseantes. Na música ruim que faz sucesso há dois subgrupos - os que se levam a sério e os que não se levam a sério. Os que se levam a sério normalmente ficam deslumbrados demais com seus 15 minutos de fama, se acham talentosos e nem imaginam que os 'fãs' só acham tudo muito engraçado e ridículo. Já o outro grupo sabe que é engraçado e ridículo, e por isso mesmo tenta a sorte na maior cara de pau. Palmas para estes, pelo menos pela coragem.
Querem três exemplos? Voilà.

Atenção nos links e nesses figuras: o primeiro é um clássico exemplo de um cara de pau que só queria aparecer na net e acabou parando até na TV. Os segundos foram um pouco mais ambiciosos. Sem perder o ar de galhofa, apareceram em várias versões no rádio e na TV (nota: só para lembrar, o de amarelo não é O Lerdo, ok?). Já a terceira é a típica sem noção que acha que é mesmo linda e absoluta e não percebe que a gritaria dos 'fãs' é brincadeira hehehe

Vocês pensam que tecnologia é só internet? Nem pensar! Como diria Regina Casé, há um Brasil a ser descoberto, e um Brasil que descobriu a facilidade que é ter um computador em casa e equipamentos de gravação mais acessíveis. Falo, meus queridos, da Periferia, com "P" maiúsculo, que nos oferece o que há de mais inovador e, principalmente, mais precário em termos musicais. Dos gêneros importados às legítimas criações nacionais, os rincões brasileiros exibiram na década uma vasta produção de música ruim. Atenção, não estou questionando a legitimidade destes movimentos. Pelo contrário. O Sudeste não tem condições nem o direito de monopolizar o cenário musical brasileiro. Ou seja, cariocas e paulistas: música ruim não é exclusividade de vocês!!!
Que tal falar em termos objetivos?

Esses já são clássicos. Conquistaram o Brasil com sua música profunda e envolvente e seus cabelos esvoaçantes, como as belas madeixas da moça de terno nesse vídeo aqui. O lado bom é que as letras de duplo sentido continuam, mas eles nos poupam das danças vulgares. Melhor ainda: se a Joelma continuar a cabeça desse jeito, um dia ainda vira o cérebro ao contrário e nos dá um pouco de paz.

Enfim, o terceiro vértice da revolução tecnológica da música ruim. Este existe há mais tempo que os outros, mas nesta década aumentou sua influência. Falo da incrível capacidade que os autores e diretores de novela têm de achar músicas dando sopa e transformá-las em grude nos ouvidos. Vale aqui uma menção honrosa à Glória Perez. Da América às Índias, ela é o retrato perfeito de alguém que escolhe a dedo a trilha sonora do nosso mau humor. Música ruim não é exclusividade da trilha internacional. Se pagode e forró, ritmos genuinamente brasileiros, já são ruins, os de novelas então, são ainda piores, pois conseguem atingir o fundo do poço em duas categorias. Quase tão ruim quanto estes modismos étnicos são os artistas 'lançados' em trilhas de novelas. A música é rasa, mas tem no DNA o genótipo da equação mediocridade/sucesso. Resultado: um beijo dos protagonistas num dia de audiência alta leva a musiquinha infame às paradas de sucesso. Mas não se engane. Tudo é muito efêmero e cruel. Depois do último capítulo, os artistas caem num ostracismo de dar dó e ninguém (ninguém mesmo) lembra que as músicas um dia existiram. Tudo porque estão mais interessados na trilha sonora da vez, nas bugingangas e bordões dos personagens da nova novela.
Duvida? Te desafio a lembrar dessas aqui.

Novelas: durante oito meses vemos clichês culturais, violência (na foto - ao corpo, no link - aos ouvidos) e apelação regados com uma trilha sonora inesquecível. Inesquecível porque é martelada à exaustão em nossas cabeças. O pior é quando elas influenciam a criação de outras pérolas, como essa aqui.

Bom, chegamos ao fim da primeira parte. Ainda há muita década a lembrar. E uma nova década pra escutar. Espero que tenhamos menos dores de ouvido com as músicas ruins. Mas que soframos o suficiente pra eu fazer uma nova retrospectiva em 2020. Feliz 2010's!