(Ou "Sobre lógica e tristeza")
Fiquei sabendo recentemente da história do filho de um amigo do meu padrasto. Morador da Zona Sul do Rio, recentemente ele descobriu ser portador de um tipo raro de leucemia, que dava a ele poucas chances de sobrevivência.
Me lembro de visitar um amigo do meu padrasto, morador da Zona Sul, quando era bem pequeno, e esse amigo tinha filhos. Lembro também que brinquei de Football Club com eles, o que me inspirou a pedir um jogo igual no meu aniversário. Não sei se um desses filhos era o garoto sobre o qual estou escrevendo. Afinal, meu padrasto tem muitos amigos com filhos. Para todos os efeitos eu não o conhecia. O que é verdade, pois mesmo que tivéssemos convivido por algumas horas e até brincado por poucos instantes, depois deste suposto encontro, nunca mais tivemos idéia da existência um do outro.
Até que fiquei sabendo dele, de sua doença e de uma das formas que ele achou pra lidar com ela: sim, um blog.
Todo o tratamento, suas dúvidas, suas esperanças, suas descobertas foram documentadas na página que ele batizou de Cerumano. Pois, em suas próprias palavras, "Cerumano também fica doente". Doente Cerumano ficou, mas o que pude constatar era que o blog que eu lia era de alguém com idéias que esbanjavam saúde. Nada de ver alguém reclamando da vida, e sim de alguém que ria impiedosamente desta vida, que cisma em nos pregar peças. Não confundam "esbanjar saúde" e "rir impiedosamente" com fazer piada. Falo de um blog sério, com informações úteis de uma pessoa inteligente a ponto de se dar ao luxo de se comparar a Rocky e de ser fã dos Malvados, o supra-sumo do humor negro.
O último post de Cerumano data de 21 de agosto, quando ele comemorava a vitória sobre a leucemia e a identificação de uma doença viral (provocada por sua baixa imunidade) que, depois de tratada, permitiria que ele saísse do hospital. Confesso que fui um leitor esporádico da trajetória de Cerumano e, depois de muito tempo sem visitar seu blog, só li este post no sábado, dia 28, junto com minha mãe. Ficamos felizes por saber que Cerumano vencera. E que estava confiante pra última batalha.
Hoje, soube por minha mãe que, naquele mesmo sábado, a vida pregadora de peças riu por último. Cerumano havia perdido sua última batalha. Mas perdeu com honras e foi considerado vencedor no final.
Por causa disso, me peguei pensando sobre a vida. Fiquei triste. Estou triste. Por Cerumano, que foi um lutador peso-pesado, mesmo enfrentando uma guerra dificílima. E pela vida, esta que é mestra em deixar todo cerumano, como eu, você e ele, insatisfeito.
Tentei achar motivos para a tristeza. Sequer conheci Cerumano, sempre achei que a vida deixava todo mundo insatisfeito mesmo... e mesmo assim fiquei triste. E sem resposta.
Talvez a minha tristeza venha do fato de Cerumano ter me provado que a vida não é tão insatisfatória assim. Talvez não. Talvez eu esteja triste por Cerumano ter morrido jovem. Jovem como eu sou agora. Talvez não. Talvez este seja meu erro. Encontrar uma resposta, encontrar lógica. Talvez seja esta busca o motivo de minha tristeza.
E, já que a tristeza é um sentimento desprovido de lógica, dedico este post ao rapaz que não conheci, mas que já me fez acreditar que posso cerumpoucomaisumano.
P.S. Depois destas palavras, não espere de mim lugares-comuns como "viva cada momento como se fosse o último" ou "diga isto ou aquilo pra quem você ama" ou, pior ainda, "viva intensamente". Particularmente, odeio todas essas imposições. A vida já nos cobra demais. Não é preciso que venha um mandando slides em Power Point e tente nos dizer o que devemos fazer. [o velho Lerdo mode: on]
www.cerumano.com