sábado, 11 de abril de 2009

O Guia do Mochileiro da Baixada

"Fala aí, eu queria uma mochila com muitos³ compartimentos!"

Não, não é um post turístico. Mas depois de quase quatro horas andando nas lojas e shoppings da cosmopolita Nova Iguaçu, sinto-me em condições de opinar sobre mochilas de subgrifes e lojas que vendem tais objetos tão importantes para nossa sobrevivência.

Esta fábula começou há dois anos, quando percebi que a mochila caríssima (para os meus padrões) que eu havia comprado era de uma qualidade decepcionante. Pelo preço que paguei, eu substituiria o decepcionante por ultrajante. Não citarei a devida marca pois ainda adoro seus produtos (menos as mochilas) e acredito que este fato isolado foi apenas um momento infeliz do meu relacionamento com a loja.

Você deve, então, se perguntar por que eu fiquei dois anos com uma mochila se, já nos primeiros dias ela dava sinais de que não suportaria ser usada pelo ser mais desastrado do mundo (supondo que esse ser seja eu). É que, ao contrário dela, aguentei bravamente as trocas de zíperes, as costuras e os remendos. Mas chegou um momento em que não dava mais. Seria de crueldade sem par submetê-la a outra cirurgia para consertar o maldito bolso da frente.

Então, há duas semanas fui procurar uma mochila nessas lojinhas de rua. Aquelas você deve evitar passar em frente, caso contrário, os vendedores te puxam pra dentro e te tratam como amigos de infância, tipo:
- Coé, irmãozinho! Não quer ver essa super-bermuda estampada, não? - ele diz, mostrando uma daquelas figuras de ilusão de ótica em formato de bermuda.
Apesar de ir contra meus valores e princípios, essas lojas têm muitas mochilas de boa qualidade, e era disso que eu precisava.
O vendedor me mostrou uma muito boa, perfeita para minhas necessidades e com um preço bom. Só havia um problema: sem grana e o limite no cartão quase estourando. O jeito era esperar:
- Sabe como é, cara, eu vou dar mais uma volta e qualquer coisa eu apareço. - pra não dizer: "Sou pobre, me paga um lanche?"
- Pô, irmãozinho. Corre que essa é a última.

Engraçado que quando a gente fala que vai dar mais uma volta eles sempre mandam essa de "a última". Só que ele não estava mentindo. Quando eu voltei a mochila perfeita já não estava lá. Tudo bem que eu só voltei depois de duas semanas, mas isso não exclui a possibilidade de aquela ter sido realmente a última. O que fiz? Fui ao shopping procurar mais. Entrei numa loja conhecida, onde já havia comprado uma mochila, mas quando estava na sexta ou sétima série. A vendedora, muito simpática, me mostrou vários modelos. Todos legais, todos dentro do meu orçamento, mas nenhum igual à mochila perdida. Até que ela, meio hesitante, falou:
- Vendemos também as multimarcas, que você deve saber que são mais caras.
Foi a minha vez de hesitar:
- Tudo bem, eu queria dar uma olhada.
Eu detesto coisas de pseudogrifes, tipo Billabong, Reef etc. Primeiro porque são caras, segundo porque são espalhafatosas, terceiro, porque são caras e espalhafatosas. Mas ela me mostrou uma mochila que conseguia ser melhor que a minha favorita anterior, preta, compacta, muitos compartimentos, de uma marca pouco conhecida chamada Element. Perfeita. Preço:
- 180 reais.
Não estava em meus planos. Ela reparou:
- Mas posso ver um desconto aqui pra você.
"Legal, vai pra 170...", pensei. E ela volta:
- Te dou 30% de desconto no dinheiro!
Não consegui esconder minha surpresa. Ela reparou:
- Ainda fica meio pesado?
O desconto me seduziu, mas eu não queria demonstrar:
- É, um pouco, e eu não queria mochila de marca, chama muito a atenção, sabe? Eu vou andar com ela pra muitos lugares e talz... acho que vou dar mais uma volta aqui por aí...
- Você pode procurar, mas vai acabar voltando. - ela disse, e eu me assustei.
Só faltou dizer: "Seu destino está traçado..."

Realmente, 30% de desconto era tentador. Com isso, o preço da mochila cairia para um valor aproximado ao que eu havia pago pela mochila velha. Não era vantagem nenhuma, mas ao menos cabia no meu orçamento.
Com os 30% na cabeça, visitei dezenas de outras lojas de tchutchuca, com mochilas iguais às bermudas e os vendedores tentando me convencer:

- Poxa, essa daqui tem muitas divisórias.
"30%"

- Essa é de ótima qualidade.
"Não adianta procurar, você não vai encontrar melhor"

- Poxa, super-discreta, essa estampa hipnótica, cheia de listras, pontos, xadrez, ilustrações é preta-e-branca, dá pra usar em qualquer lugar.
"Consigo esse desconto, mas só pra hoje"

Quando eu cheguei na loja mais tchutchuca de todas, percebi que atingira o fundo do poço. Uma vendedora me recepcionou, enquanto a outra ficou na porta dançando funk. Ambas devidamente vestidas para matar, ou seja, jeans apertados, aquelas blusas tomara-que-caia que têm as formas dos seios, não sei explicar direito. Enfim, bem potranca mesmo. Elas me mostraram as mochilas e eu, cada vez mais desconfortável com o ambiente e com a música, disse que nenhuma delas atendia às minhas necessidades.

Dei o braço a torcer. A menina estava certa. Reconheci minha derrota e retornei ao campo inimigo. Desta vez quem se surpreendeu foi a legião de vendedores. Tentando disfarçar, ela disse: "Eu falei que você não encontraria melhor."
Enquanto eu entrava na loja pra pagar o produto e levar a mochila, entreouvi um trecho de uma conversa entre a gerente e um outro vendedor:
- ...jeitinho humilde...
- É, cara de morador de Austin.

Foi quando caiu a ficha:

CARA DE POBRE!

Era óbvio que eles me deram 30% de desconto porque acreditaram que eu não iria levar. Safados!!! Me trataram bem, esperando que eu comprasse uma pulseira, pelo menos, e resolveram brincar com os meus sentimentos uhauhahaauauhauha. Minha mente diabólica começou a funcionar alucinadamente, eu sentia necessidade de me divertir com aquilo.
Enquando a vendedora embrulhava a mochila, ia falando:
- Você tem que ver que nem sempre a gente pode se ligar no preço...
- É, eu sei, mas já tive várias mochilas de marca que não resistiram nada - dei o golpe certeiro.
- Você tem que ver que nem sempre a gente pode se ligar na marca...
- Nem fala, eu tenho um monte delas em casa que hoje estão completamente acabadas. Elas não prestam, a gente paga um preço alto esperando levar qualidade e só se decepciona. Por isso eu decidi que só compraria mochilas baratas.
- Mas essa é boa, você viu, né? - Percebi um tantinho de desespero, ao ver que a compra seria realmente efetuada, e o playboyzinho de Nova Iguaçu iria lhe roubar parte da comissão.
- Não, essa é perfeita.
- Ai, que ótimo - Quase chorando...

A caixa, assim como eu, ficou surpresa ao conhecer o valor do desconto:
- Trinta por cento?
- É, ele é cliente VIP.

E assim eu levo uma mochila boa, com um desconto ótimo, e ainda termino sendo chamado de cliente VIP.

Toda essa fábula pra dar uma dica de ouro aos leitores-consumidores, sobre como se portar em uma loja:

Entre com cara de pobre, saia com cara de rico.

Mesmo você não sendo nem uma coisa, muito menos outra. O que importa é que você termina o dia numa felicidade de dar gosto.

8 comentários:

Prof. Aline Costa disse...

"- É, cara de morador de Austin.

Foi quando caiu a ficha:

CARA DE POBRE!"

=O

E eu que achava que levava desconto nas lojas pq os vendedores me achavam simpática!

Charles disse...

Post legal hein!

Realmente eu só gosto de comprar as coisas quando vejo que "sai ganhando", através de descontos e tudo mais, apesar de não encontrar lojas tão amigáveis quanto que vc comprou a mochila.

Essa história de 30% de desconto é igual as mega-liquidações de shopping: história pra boi dormir.....

jeff disse...

Post legal?!
Post prolixo da porra, isso sim!

xD

A Pscicopata disse...

Mas apesar de grande, a leitura eh muito agradável. :)

Naum sei pq mas me lembrou um certo blogueiro de quem vc gosta bastante.

A Interesseira disse...

"Primeiro porque são caras, segundo porque são espalhafatosas, terceiro, porque são caras e espalhafatosas. " = haushaushaushuashuashuashushuahas¹²³[minha risada mais alta.]
"aquelas blusas tomara-que-caia que têm as formas dos seios" = BOJO [eu odeio bojo.]

~Apesar de grande li tudo ^^ AMEI.

Unknown disse...

Hahaha...
Demais.

Cara, o pior de fazer compras é ter que lidar com vendedor. Nossa, é um saco.

Também fui a busca de mochilas esses dias, mas não tive que andar, tão pouco lidar com vendedores. Descobri uma ótima maneira de comprar: INTERNET. Só perco a parte dos descontos e frustração dos vendedores quando perdem a comissão, porém, consigo viver com isso.

Espero que o dinheiro que gastei seja bem pago dessa vez. Não aguento mais comprar mochila.

Tia Jenny disse...

hauhauha amei.
depois te conto a historia de como consegui uma casquinha (com sorvete sufuciente pra duas) por meio do encanto de meus belos olhos azuis.

Anônimo disse...

"Apesar de grande a leitura é boa ,
essa semana fui comprar uma michila.
naum querendo fugir do assunto, chegou um kara meio q 'alienado' e pediu o reef 'kaverão' o vendedor bem prestativo deu para ele o Oakley Teeth dizendo q era o um reef.
(o q importa évender o produto neh?)
shuahuhaushushahsas