Eu nunca gostei de angu. Sempre preferi purê de batata. Talvez não há nenhuma ligação entre os dois pratos, a não ser o fato do meu irmão não gostar de purê de batata e preferir angu. Então aqui em casa, dia de angu, também era dia de purê de batata. Angu é meio nojento, meio mole, meio autônomo, se mistura com o arroz e chega num instante que não se come nem mais angu nem mais arroz. Como-se angu com arroz, tudo misturado. E como gosto da comida bem dividida no prato, prefiro purê de batata, que permite controlar melhor o que me sirvo.
Marrom não é cor. Marrom, bege, marfim ou qualquer cor cor-de-terra. Parece que falta luz. Parece ausência. E são normais, sem identidade. Tecidos com esses tingimentos são opacos, sapatos com essas tonalidades deixam tudo muito sério, coisa de adulto. Adulto velho. Aí também não gosto. Sempre preferi cores de verdade, cores que são cores. Olhe para o vermelho e veja como ele se identifica sempre radiante em qualquer ocasião. Ou o amarelo, roxo, coral. Com pouca luz, elas se destacam. Com muita luz, elas refletem ainda mais. O marrom não. Parece sempre meio sem graça onde quer que vá.
Também nunca gostei muito de mulher. Sempre me pareceu que faltava alguma coisa ali. E quando rolava revista de mulher pelada na escola, eu não vi a menor graça naquilo que meus coleguinhas comentavam com tanta vontade. Hoje eu entendo que aquela vontade se chama tesão. Mas eu fingia que sentia também a mesma coisa. Não sei se colava, mas fingia. Quando tinha alguma cena de quase-sexo na televisão e ocorria do meu pai estar assistindo comigo, me lembro que me perguntava "Queria ser ele ou ela?". Para mim, eu respondia "ela". Para ele, eu achava melhor não responder nada.
Não faço a menor ideia porque acabei por preferir purê de batata a angu, vermelho a marrom, homem a mulher. Mas foi ao longo dos anos. Certas coisas apenas foram parecendo melhores que as outras. E ponto.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Além do Arco-Íris
Conspiração feita por O Idiota 5 falaram mal
Marcadores: gay, o idiota, saco-cheio
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
♪ Abaixa o Som! ♪ (Parte 3a - Anos 2000)
Já leu???
Introdução
Anos 80
Anos 90a
Anos 90b
Anos 90c
Esqueçam o terrorismo. O Youtube foi o grande perigo da década.
Claaaaaro que foi tudo planejado. A série sobre música ruim foi adiada para coincidir com o fim da década, que outra razão poderia ser? O que parecia (reitero, parecia) ser um esquecimento ou abandono (não esqueci nem abandonei, ok? Certo?) na verdade se provou um acerto, visto que só chegando ao fim da década para podermos analisar o panorama de modo a não esquecer nenhuma daquelas vozes abençoadas que tentaram nos enlouquecer nestes anos 2000. Assim como nos anos 90, esta década terá seus ícones da música ruim expostos em três etapas, a começar por esta.
Assim como em todas as outras áreas, a internet foi decisiva para que o vírus da falta de noção se espalhasse pelos lares brasileiros. Por um lado isto foi ótimo, pois gente muito talentosa apareceu no mundo inteiro graças à divulgação na rede. O filtro que as gravadoras e distribuidoras impunham também enfraqueceu bastante. Temos acesso ao trabalho de artistas que demorariam anos para sair do eixo EUA-Europa ou que sequer apareceriam nestas terras. Por outro lado, nem tudo são flores no reino da internet: assim como há o trigo, também há o joio, e parece que a galera não soube separar isso muito bem...
Podemos dividir os artistas da internet em alguns tipos:
- os bons, que fazem sucesso - inclua-se neste grupo exemplos como a banda inglesa Arctic Monkeys, que teve o álbum de estreia mais vendido da hisória da Grã-Bretanha (superando até os Beatles) e começaram em programas de compartilhamento de arquivos;
- os bons, que não fazem sucesso - vide os milhares de verdadeiros artistas que fazem covers de músicas famosas e, infelizmente, não têm tanto reconhecimento. Falarei deste grupo em uma oportunidade mais apropriada;
- os ruins, que não fazem sucesso - o menos perigoso de todos os tipos, afinal, é ruim e ninguém ouve mesmo;
Não me estenderei nos grupos citados acima, pois meu foco é música ruim e que tenha alguma repercussão. Não tô aqui pra chutar cachorro morto. Não ainda. Portanto, tratemos dos artistas que alcançam algum sucesso com suas músicas se não constrangedoras, nauseantes. Na música ruim que faz sucesso há dois subgrupos - os que se levam a sério e os que não se levam a sério. Os que se levam a sério normalmente ficam deslumbrados demais com seus 15 minutos de fama, se acham talentosos e nem imaginam que os 'fãs' só acham tudo muito engraçado e ridículo. Já o outro grupo sabe que é engraçado e ridículo, e por isso mesmo tenta a sorte na maior cara de pau. Palmas para estes, pelo menos pela coragem.
Querem três exemplos? Voilà.
Vocês pensam que tecnologia é só internet? Nem pensar! Como diria Regina Casé, há um Brasil a ser descoberto, e um Brasil que descobriu a facilidade que é ter um computador em casa e equipamentos de gravação mais acessíveis. Falo, meus queridos, da Periferia, com "P" maiúsculo, que nos oferece o que há de mais inovador e, principalmente, mais precário em termos musicais. Dos gêneros importados às legítimas criações nacionais, os rincões brasileiros exibiram na década uma vasta produção de música ruim. Atenção, não estou questionando a legitimidade destes movimentos. Pelo contrário. O Sudeste não tem condições nem o direito de monopolizar o cenário musical brasileiro. Ou seja, cariocas e paulistas: música ruim não é exclusividade de vocês!!!
Que tal falar em termos objetivos?
Enfim, o terceiro vértice da revolução tecnológica da música ruim. Este existe há mais tempo que os outros, mas nesta década aumentou sua influência. Falo da incrível capacidade que os autores e diretores de novela têm de achar músicas dando sopa e transformá-las em grude nos ouvidos. Vale aqui uma menção honrosa à Glória Perez. Da América às Índias, ela é o retrato perfeito de alguém que escolhe a dedo a trilha sonora do nosso mau humor. Música ruim não é exclusividade da trilha internacional. Se pagode e forró, ritmos genuinamente brasileiros, já são ruins, os de novelas então, são ainda piores, pois conseguem atingir o fundo do poço em duas categorias. Quase tão ruim quanto estes modismos étnicos são os artistas 'lançados' em trilhas de novelas. A música é rasa, mas tem no DNA o genótipo da equação mediocridade/sucesso. Resultado: um beijo dos protagonistas num dia de audiência alta leva a musiquinha infame às paradas de sucesso. Mas não se engane. Tudo é muito efêmero e cruel. Depois do último capítulo, os artistas caem num ostracismo de dar dó e ninguém (ninguém mesmo) lembra que as músicas um dia existiram. Tudo porque estão mais interessados na trilha sonora da vez, nas bugingangas e bordões dos personagens da nova novela.
Duvida? Te desafio a lembrar dessas aqui.
Bom, chegamos ao fim da primeira parte. Ainda há muita década a lembrar. E uma nova década pra escutar. Espero que tenhamos menos dores de ouvido com as músicas ruins. Mas que soframos o suficiente pra eu fazer uma nova retrospectiva em 2020. Feliz 2010's!
Conspiração feita por O Lerdo 2 falaram mal
Marcadores: anos 2000, meu passado me condena, música, O Lerdo