Deitado na cama continuava nu sem sentir o desejo de me cobrir por completo. Deixava apenas uma parte do lençol de brancura inibida pelo tempo e uso cobrir os meus pés mornos. Não sentia vontade de me levantar de mexer a pálpebra dos olhos, se estivesse vestido iria me despir pois era prazeroso minha pele sentir o algodão das roupas de cama disposta entre dois pequenos móveis erguendo dois abajures, um com a lâmpada queimada. Ainda não trocaram a lâmpada eu pensei. Ainda não trocaram a lâmpada ela disse ao me ver tentando acender o abajur com a lâmpada queimada movendo somente o braço esquerdo em direção ao objeto, mantendo cada músculo restante estacionado na minha canseira. Havia acabado de sair do banheiro, demorou lá os longos quinze minutos de costume lavando cada parte sentida tocada melada pela minha boca agora fechada, meus lábios pareciam apenas um e o esforço aparente de separá-los podia ser comparado ao esforço real de me separar dela.
Vi seu busto arrepiado pela inócua brisa que invadia a nossa sala de pecado e tornava-se cúmplice dos nossos instintos, como cada pedaço de pano que nos tocava e compactuava com nosso libido como cada poltrona cada tapete cada porção de barro pintada e esculpida como vaso, só eles tomavam ciência da animalidade contemplada por fantasiosos olhares que a nós se dirigiam mas sem inibir nossos movimentos constantes desprovidos de monotonia. Cada segmento redondo de sua carne seguia num balanço rítmico e belo em direção a cama e foram depositados ao meu lado, como tudo estava em sua coreografia habitual e não esperava surpresas retornei meu olhar à parede infiltrada nas arestas mais distantes da cama. Não se passaram ainda pelo meu ouvido o som do isqueiro sendo aceso que sua mão direita confortava enquanto seus dedos esquerdos erguiam o cigarro futuramente amaciado pelos seus lábios já limpos e sem o sabor do meu falo que se encontrava sossegado como eu, mas meu olfato antecipara o bom cheiro da fumaça que agora sim ia ocupando a sala.
Sua boca traçada e pintada com perfeição exalava a névoa cinza translúcida cheirando ao forte aroma do cigarro e ao doce paladar de seus lábios concentrados naqueles movimentos repetidos, o intenso e contraído instante de tragar encontrava sossego na calmaria orgástica de expelir o fruto do fumo. Meu estado também era uma intensa hibernação física e mental, como um rio conturbado que antes se debatia e rebatia em si compondo uma orquestra de ruídos confusos e agora deságua taciturnamente no mar encontrando seu repouso efêmero, um conforto inadiável oriundo do meu gozo, para onde minha carne necessitava retornar como um filho pródigo com saudades do colo do pai. Deu a última e melhor tragada no miúdo cigarro que fora reunido ao amontoado de cinzas acomodadas no cinzeiro ao lado do abajur de lâmpada queimada. Ainda não trocaram a lâmpada eu pensei. Ainda não trocaram a lâmpada ela disse ao derramar com um esforço suave seus seios desnudos sobre meu peito para apagar a outra lâmpada acesa com seu braço alongado ao máximo. Para então regressarmos ao pandemônio do meu prazer.
2 comentários:
Eu falei que os conspirados estão se superando a cada post...
Idiota, essa foi a forçação suprema huaahuhuaahuhuahauhau
Muito bom, esse post me deu coisas huahuahuahuahahuahuahuahuahuahuahu
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